A HISTÓRIA DE UM HOMEM JUSTO E SOFREDOR

Pr. Eziquiel Nascimento
Publicado em 04/01/2022

A pessoa boa, honesta e justa sofre? Essa é a história de Jó. Hoje vamos dar uma pincelada nos dois primeiros capítulos de Jó. Uma das perguntas cruciais da humanidade é: Por que o justo sofre tanto, enquanto o ímpio prospera? Jó é a história de um personagem piedoso e justo e que, repentinamente, tudo lhe é tirado; incluso todos os bens e os filhos. É jogado no mais puro sofrimento e, humildemente, mantém sua fé. É a história de que a paciência e fé em Deus vencem o sofrimento contra tudo e contra todos. Também em Jó se aprende que, nem sempre, o sofrimento e pobreza são fruto do pecado. Também fica claro que, quase sempre, o justo sofre mais do que os ímpios. Jó ensina a confiar totalmente na justiça divina que, no tempo (Kairós) de Deus, virá. 

O que é que vamos aprender com o livro de Jó? 1. Satanás tem acesso a Deus tanto quanto qualquer anjo. Lembrando que o papel dele é o de destruidor e nisso está incluído aqueles que são fiéis a Deus; 2. Satanás só pode tentar destruir o fiel até o limite da permissão de Deus. Isso mostra que Deus sempre tem o controle de tudo em sua Onipotência; incluindo Satanás; 3. É impossível ao ser humano conhecer todos os planos e desígnios de Deus. Por isso, é melhor confiar nEle porque Ele cuida até dos pássaros e lírios, conforme Mateus 6. 

Aparentemente, o problema do mal é o assunto principal de Jó, mas não é. A gente vai ver ao longo dos próximos domingos. Jó é um personagem real, bem como seus amigos. Todos procuram respostas difíceis e as encontram somente em Deus. Por isso, é um livro de fé real; pois todos eles são personagens reais tementes a Deus. A tenebrosa “teologia da prosperidade” tanto em voga, principalmente, nos arraiais pentecostais, talvez, tenha tido sua origem no livro de Jó e uma interpretação completamente alheia à Bíblia e cheia de maluquices teológicas. O que Jó ensina claramente é que o cristão precisa ter paciência para vivenciar, pela fé, o resultado final da sua vida. No tempo de Deus as bênçãos chegarão. Poderão ser aqui na terra ou somente na eternidade

Vamos aos dois primeiros capítulos. Em cinco versos (1:1-5) o autor definiu o caráter de Jó: Rico, justo, bondoso e amava a Deus. Personalidade fantástica a ponto de o próprio Deus dizer que se agradava dele. Ele tinha 7 filhos e 3 filhas. 7 e 3 são números simbólicos na Bíblia e indicam perfeição. Os números eram sinais do favor de Deus a Jó. Era pai piedoso e, temendo que seus filhos pecassem, ele mesmo se assegurava de que eles estivessem vivendo debaixo da vontade de Deus. Jó era um verdadeiro sacerdote do lar.  

Certa vez houve um Concílio Celeste (1:6-12). Como intruso Satã compareceu para fazer o que ele mais sabe fazer: acusar os fiéis a Deus. Nessa assembleia tentou perturbar a ordem do dia. Não acusou ninguém, apenas queria perturbar. A pauta foi feita por Deus e Ele traz o assunto Jó. Tanto é verdade que Satanás precisou da aprovação divina; e a última vez que ele aparece no livro é em 2:7. Por isso, seu papel no livro é secundário. A intenção do autor não foi estabelecer que o sofrimento humano tenha tido sua origem em Satanás. Também não foi estabelecer que fosse causado pelo pecado. Ambas as coisas podem ocorrer, mas, não é o fim último do livro. A soberania de Deus sobre tudo e todos se sobrepõe a esses argumentos. Ele tem o controle de absolutamente tudo. Veja que Satanás pede autorização de Deus para tocar na vida de Jó. E Satanás teve autorização para acabar com tudo que Jó tinha, menos tocar na sua saúde, no seu corpo. Não conseguindo que Jó se tornasse infiel foi até Deus, novamente, para conseguir permissão para tocar na vida física de Jó. Ninguém, nem mesmo Satanás, pode fazer qualquer coisa sem que Deus autorize. 

Uma a uma todas as posses de Jó, inclusive, os filhos pereceram. Ele fica pobre e na segunda investida, também perde a saúde. Interessante notar que o autor do livro não dá qualquer conotação de toda a desgraça ser de autoria divina ou satânica.  Ele usa os sabeus (semitas valentes, comerciantes e salteadores); fogo do céu (raios?); assaltantes caldeus; vento forte (ciclone). Elementos naturais e assaltantes. Tudo isso era comum na vida da sociedade à época.

É Jó quem vê a mão de Deus em cada um desses eventos. Ele crê na soberania de Deus e vê em cada evento essa soberania. A fé de Jó na soberania de Deus era tamanha que ele, após tudo de mal ter acontecido a ele, ainda pôde dizer: “louvado seja o nome do Senhor” (1:21). O manto que rasgou era típico dos “poderosos” à época. Rasgá-lo era um gesto de sentimento profundo de tristeza, juntamente com o ato de raspar a cabeça, que era sinal de luto. O mais importante é que, apesar de tanta desgraça, Jó adorou a Deus. Interessante que Jó não xingou os sabeus, ou os caldeus, ou os servos que não vigiaram o suficiente. Ele, simplesmente, adorou a Deus reconhecendo a soberania dEle. 

Só quero chamar atenção para a esposa de Jó (2:9). O que é pior? Uma esposa “sem noção” ou as dores de uma doença terrível, a ponto de passar o dia se coçando com caco de telhas? Nem mesmo os amigos chegavam perto dele. Mas, creio eu, que a atitude da mulher foi compreensível. O marido amado estava sofrendo tanto que ela não aguentava mais; pois nada podia fazer para amenizar sua dor. Ela preferia perder o amado que vê-lo sofrer tanto. Claro que sua fala foi extremamente equivocada; porém, de um coração sofrido e cheio de amor. Por que entendo assim? Em Jó 42 Deus repreendeu severamente os amigos e Jó e não o fez com sua esposa.  Deus, que conhece os pensamentos de todas as pessoas, sabia que a afirmação da esposa de Jó fora de palavras insensatas em meio ao sofrimento. Ela não tinha a têmpera, a fé e os valores de Jó. Além disso, ela ficou firme ao lado de Jó e foi ricamente abençoada; juntamente com ele (42:10-17).

Ficam DUAS LIÇÕES para nossa meditação: 

  1. Por mais justo, boa e honesta também sofre. A presença de Deus na sua vida foi a resposta que Jó encontrou em meio aos seus sofrimentos. Ele entendeu que Deus era soberano e tinha o controle de tudo e sobre tudo. Sua fé foi inamovível. 
  2. A fé só é fé se for desinteressada e independe de existir na vida pessoal o bem ou o mal. A isso a teologia chama de teodiceia (justificação da bondade de Deus diante da presença do mal). Fé é aquilo que fez Jó: não importa o que acontecer, confiança em Deus sempre! Amém. 

Venha refletir mais um pouco sobre essa história. Participe conosco do Café Metanoia, no YouTube, domingo 8h45min e da escola bíblica as 9h15min na EBD da IBVO (classe ADULTOS). 

Compartilhe em suas redes sociais